quarta-feira, novembro 16, 2005

Requiem por Vlado




Há 30 anos morria em São Paulo o jornalista Vladimir Herzog. “Vlado”, como era conhecido, bateu-se durante a quinzena de anos em que exerceu a profissão por uma concepção do jornalismo e da comunicação social segundo a qual os media (mesmo os estatais) deveriam, mais do que educar ou aculturar, apostar num “diálogo com a sociedade, que superasse todo tipo de paternalismo e incorporasse os problemas, esperanças, tristezas e angústias das pessoas às quais se dirige”. Sublinho a “superação do paternalismo” (não por concordar –necessariamente- mas porque é essa a marca de água da linha que seguia). Era essa dialéctica horizontal a sua concepção da responsabilidade social do jornalismo.
Homem da cultura, estudioso do teatro, professor universitário, Herzog era um homem inquieto e engajado na luta pela mudança do Brasil. Luta essa que travava em várias frentes, no panorama mediático e não só. O seu envolvimento com Partido Comunista Brasileiro levou-o a ser interrogado. Na noite de 24 de Outubro de 1975, o então director de jornalismo da TV Cultura, de São Paulo, foi brutalmente torturado e assassinado pela polícia brasileira. As autoridades tentaram fazer parecer que Vlado se teria suicidado no cárcere mas veio a descobrir-se que se tratava de uma encenação (é histórico) . O “episódio” foi mais uma acha para a fogueira da constestação social que exigia abertura política e democratização no país.
Vladimir Herzov tornou-se um ícone da luta pela liberdade e pelos direitos humanos e dá hoje o nome a vários centros académicos e a prémios jornalísticos no maior país lusófono.
RIP

João Pedro Marques

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